Um SC Beira-Mar em mudança deve, na minha opinião, mudar também muita coisa na Academia de Futebol. Os resultados modestos que o clube tem tido nos últimos anos, bem como o facto de nos últimos anos ter lidado mais de perto com o nosso futebol de formação, permitem-me aqui deixar algumas sugestões e pontos para discussão sobre o que julgo ser melhor para a Academia. É que independentemente das dificuldades inerentes à falta de campos próprios, (se existisse um verdadeiro centro de formação, diminuiriam as despesas, melhoravam as condições e centralizava-se todo o futebol de formação), julgo que há coisas que podem e devem ser mudadas o mais rapidamente possível.
1 - À semelhança do que já acontece em clubes como por exemplo o Taboeira ou o Oliveira do Bairro, julgo ser fundamental existir um coordenador exclusivamente para o futebol de sete. Não é possível pedir, a quem quer que seja, que realize a melhor coordenação possível quando o clube tem doze ou treze equipas de futebol de formação! Não é possível. O futebol de sete tem que ter um coordenador e o futebol de onze tem que ter outro coordenador.
2 – Julgo que não é condição obrigatória, mas na minha opinião, o ideal será termos dois coordenadores que não sejam treinadores de nenhuma equipa. Sei que tal situação, acarretaria mais despesas mas iria conferir uma maior qualidade ao trabalho de coordenação. Hoje, é por mais evidente, que o coordenador de futebol da Academia, mais do coordenar, tem como principal preocupação a equipa de juniores, ou seja, aquela em que também é treinador.
3 – Pagar a dois coordenadores é pagar a duas pessoas especializadas, conhecedoras do que é futebol de formação, para que marquem presença nos treinos e nos jogos das várias equipas do clube. Não podemos ter um coordenador que não vê um único treino de um determinado escalão. Defendo que a função do coordenador terá que ir muito mais além do que definir campos, horários e enviar, aqui e ali, algumas informações por email. Um coordenador deve confiar nos directores das várias equipas mas tem que testemunhar ele próprio aquilo que chega até si por parte dos referidos directores.
4 – Defendo que um coordenador terá que ser alguém muito presente, que fale permanentemente com os pais, com os atletas. Um coordenador que possa fazer a avaliação ao trabalho dos treinadores com base naquilo que ele próprio observa e não com base naquilo que vai ouvindo.
5 – É urgente acabar com a influência directa que os ditos «directores de equipa» têm sobre as mesmas! Escusado será dizer que tal não sucede actualmente, porque eu sei que acontece. Não vejo mal nenhum que os «directores» sejam pais de atletas, mas daí a influenciarem, directa ou indirectamente as decisões dos treinadores, vai uma grande diferença. E, lá está, só se acaba com esta situação com coordenadores que testemunhem in loco essas mesmas situações, mas também com a escolha de treinadores com personalidade forte.
6 – No futebol de sete, independentemente da existência de campeonatos, dos quais resultam campeões distritais, e independentemente de ninguém gostar de perder e de ser importante incutir o espírito de vitória, julgo que a Academia deveria impor aos seus treinadores a obrigatoriedade de todos os miúdos jogarem no mínimo cinco minutos. Repito: devia ser obrigatório! E se um treinador não concordar com tal imposição? Fácil: deixa de ser treinador do clube.
Ganhar é importante, mas mais importante é permitir a todos os jovens atletas a prática desportiva em contexto competitivo. Como fica a auto-estima de uma criança de oito, nove anos, quando é convocado e nem sequer entra em campo ou joga apenas um ou dois minutos só para se dizer que jogou?
7 – Mais importante do que tudo, o clube tem que ter um ou vários membros da Direcção que se preocupem, que se dediquem à Academia. A Direcção não pode ter um responsável pela Academia apenas no papel. Lembro os nomes de Orlando Neves ou de XXX, como os últimos directores da Academia que vi trabalharem, marcarem presença, lutarem pelo melhor da Academia.
8 – Se defendo a existência de um modelo de avaliação dos treinadores por parte dos coordenadores, também defendo a avaliação aos coordenadores. Nos últimos anos, o clube mudou várias vezes de Comissão Administrativa, constituiu inclusivamente uma Direcção e dá a ideia que na Academia há pessoas que estão agarradas aos lugares! E eu pergunto: como é possível que o clube, sendo o maior e mais representativo da cidade, não seja hoje o mais apelativo para um pai lá colocar um filho a jogar à bola? Como é possível iniciar-se mais uma época e o SC Beira-Mar não conseguir juntar um número de crianças superiores ao que o Taboeira, por exemplo, consegue? Ninguém é responsável por isto? Como é possível continuar a ouvir-se (admito que de uma forma exagerada e até injusta mas no mínimo com algum sentido) que o SC Beira-Mar é um clube onde só jogam os meninos do fulano tal, do senhor Director disto e daquilo, etc, etc? Será um problema de condições? Não me parece. O SC Beira-Mar carece de infra-estruturas dignas e próprias, mas do mesmo mal sofre muito mais o Taboeira! A questão é que no Taboeira as pessoas sentem-se bem tratadas, acompanhadas e respeitadas. A diferença é que no Taboeira há a preocupação em formar e não em ganhar a toda o custo! E o pior, é que mesmo se quisermos falar em resultados, o SC Beira-Mar, os seus responsáveis pela Academia e o seu coordenador, não têm hoje argumentos para falar! O SC Beira-Mar ganhou apenas um título distrital no ano passado; tem vindo a sentir, de ano para ano, cada vez mais dificuldades em manter-se no «nacional» de juvenis; e em juniores continuamos sem subir à primeira divisão nacional! Repito: o SC Beira-Mar tem que ter na Direcção alguém que analise estas questões, que faça uma avaliação dos resultados e que tente perceber porque é que o maior clube da cidade e do distrito não consegue ser atractivo para os jovens futebolistas. A formação do SC Beira-Mar está muito mal vista e esta é que é a verdade.
9 – E por fim, falar do aproveitamento que, de futuro, tem que ser feito dos jovens futebolistas formados no clube. E aqui, a responsabilidade terá que ser da Direcção/SAD, ou seja, não faz sentido o clube iniciar uma época sem subir a sénior um único jogador que seja. Aqui a culpa é, e tem sido, das diferentes Comissões Administrativas/Direcções do clube que não impõem ao treinador que contratam para a equipa sénior esta obrigatoriedade. Ou seja: quem fosse treinador da equipa profissional, teria que ser obrigado a promover um ou dois ex. juniores ao plantel sénior todos os anos! Não me acredito que não haja todos os anos, um ou outro atleta com valor para ser integrado no plantel profissional. Não me acredito.
O SC Beira-Mar não pode ter como treinador do futebol sénior alguém que seja ele próprio a tomar este tipo de decisões. Pelo contrário, o treinador dos seniores teria sempre que se sujeitar ao regulamento interno que obrigasse a esta promoção de um ou outro júnior todos os anos.
Bem sei que o clube tem hoje no plantel sénior, o Artur, o Jaime, o Dias, o Tiago Barros, todos eles com passagens pelos escalões de formação e que num passado recente, a situação era bem pior, mas também acho que é possível tirar ainda mais partido da Academia e obter mais «frutos» do trabalho desenvolvido no futebol de formação do clube.
São sugestões e opiniões que deixo no ar. Não, ao contrário do que alguns mentirosos e mal formados poderão vir a insinuar, o que aqui escrevo nada tem a ver com sentimentos de vingança ou de mau estar por já não ter o meu Filipe no clube. Nada disso. É verdade que o que fizeram ao Filipe (negar-lhe a possibilidade de continuar a representar o clube do qual é sócio, onde andava desde os quatro anos e onde foi penalizado por um erro do pai) ajudou-me a «abrir os olhos» e a ver a realidade da Academia do SC Beira-Mar sem o fantasma da clubite. O que eu pretendo é uma Academia mais competente, mais justa e com mais valores. E também não quero com isto dizer que não existem pessoas no clube com qualidade, com experiência e com know-how que não possa nem deva ser aproveitado. Não pretendo, nem defendo uma razia na Academia, nada disso, mas há que mudar muita coisa. Mais do que mudar pessoas, há que mudar directrizes, regulamentos, estruturas, formas de trabalhar. Da minha parte, estarei sempre disponível a discutir os pontos que aqui deixei em aberto, bem como outros que possam permitir um melhor futebol de formação do SC Beira-Mar. Porque gosto muito do SC Beira-Mar.