A possibilidade do SC Beira-Mar constituir uma sociedade anónima desportiva para o futebol profissional tem sido discutida ao longo dos anos. No início da última década, aquando da última alteração dos Estatutos do Clube, essa possibilidade veio mesmo a ser contemplada no Art. 5º, nº 3, tendo sido, inclusivamente, objecto de um estudo económico-financeiro, encomendado à empresa de consultoria Delloite, o qual foi discutido numa Assembleia Geral. Nessa altura, o clube estava financeiramente equilibrado e os sócios recusaram, nesse cenário, a possibilidade de se constituir uma SAD, prosseguindo o futebol profissional segundo os termos do Regime Especial de Gestão previsto para os clubes que participem em competições de natureza profissional.
Contudo, a partir de 2005, o SC Beira-Mar viveu um conjunto de circunstâncias, nomeadamente e com maior relevância, a descida à 2ª divisão da equipa de futebol, a mudança de direcção – que praticou uma gestão menos “prudente” – e o incumprimento da EMA, EM., que provocaram o desequilíbrio financeiro do clube.
Na situação actual, que é do conhecimento público, já não existem “mecenas” disponíveis para financiar a actividade do clube tendo em vista o seu rápido regresso à 1ª liga de futebol, condição fundamental para a sua recuperação financeira. É neste contexto desfavorável que a SAD volta para cima da mesa de discussão. Confessadamente, não como uma opção estratégica, mas como uma (senão mesmo a única) solução para garantir a continuidade do futebol profissional e, por conseguinte, do próprio clube que, dado o agravamento da situação financeira, dificilmente terá viabilidade sem a sua equipa de futebol na 1ª liga.
A situação de vazio directivo que o clube vive desde 2008, altura desde a qual a sua gestão tem sido assegurada precariamente por Comissões Administrativas, não deixa margem para dúvidas quanto ao esgotamento do actual modelo. Manter tudo como está é inviável e o actual elenco directivo, quando assumiu funções, alertou que só as assumiria sob o compromisso, aprovado em Assembleia Geral, de se reestruturar o clube.
Neste quadro, a constituição de uma sociedade anónima para o futebol profissional promoverá o aparecimento de investidores que permitam ao SC Beira-Mar continuar a sua actividade neste sector. Por outro lado, a “separação das águas” – Modalidades Amadoras e Formação Desportiva no Clube e Futebol Profissional na SAD – permitirá ao clube dedicar-se àquele que é, efectivamente, o seu papel social mais relevante e do qual emerge o seu estatuto de instituição de utilidade pública. Quanto à SAD, ao ser participada, na maioria do seu capital, por investidores privados, assume naquela estrutura os riscos inerentes de um negócio cujo retorno é incerto, não colocando em perigo, como hoje acontece, toda a estrutura e património do clube. Acredito, ainda, que a SAD assumirá a gestão do futebol profissional como, nos dias de hoje, se reconhece que é absolutamente essencial, isto é, construindo uma estrutura também ela profissional e, dessa forma, responsável por apresentar resultados, ao contrário do modelo actual em que são dirigentes amadores – têm as suas actividades profissionais próprias e não possuem conhecimentos de gestão desportiva – que superintendem os profissionais de futebol, nomeadamente, as equipas técnicas e os jogadores.
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Ora, o futebol profissional é, actualmente, uma indústria que move milhões, sendo uma actividade económica muito relevante a nível mundial, que garante a subsistência de forma directa ou indirecta de inúmeras famílias. Estamos a falar de um espectáculo desportivo que tem de ser perspectivado como tal, onde o adepto é naturalmente exigente porque paga o seu bilhete para ir ao estádio ou a mensalidade do canal de televisão (pay-per-view) para ver os jogos da sua equipa e respectiva liga em que participa. Também as marcas que perspectivam o futebol como um veículo de promoção (sponsors) exigem credibilidade e qualidade ao espectáculo desportivo. Ora, o nível de exigência das competições profissionais nos dias de hoje não é compatível com o amadorismo e com o voluntarismo. Carece de uma estrutura qualificada e profissionalizada, sem prejuízo do fomento da paixão, que é naturalmente absorvida dos clubes, e que uma gestão cuidada não deve descurar.
Deste modo, a SAD deverá ocupar-se da gestão da equipa profissional de futebol, do seu modelo de desenvolvimento e de todas as componentes que se inserem no espectáculo desportivo e, ainda, no apoio e acompanhamento da Academia de Futebol do Clube, estrutura formadora de potenciais activos da SAD.
Quanto ao Clube, este deverá dedicar-se ao seu escopo social, promovendo a formação e prática desportiva através das suas modalidades, fomentando o seu carácter eclético, prosseguindo uma política de proximidade e interacção com a comunidade, proporcionando-lhe serviços de reconhecida e inegável utilidade.
Neste modelo, teremos duas estruturas que trabalham com o mesmo fim, isto é, a promoção da grande marca comum «Beira-Mar». O clube numa dimensão associativa e a sociedade anónima desportiva numa dimensão empresarial.
Artigo de Nuno Quintaneiro Martins
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Só acho estranho que os mesmos Senhores que fizeram o negócio primoroso da piscina, onde perdoaram 5 milhões de euros à Câmara Municipal de Aveiro e ainda ficaram a dever 1 milhão 200 mil euros à mesma, continuem ligados à fundação da Sad.Os sócios têm que se manter atentos...Estes Senhores já mostraram as suas aptidões...
ResponderEliminarSó acho estranho é que o mesmo Senhor que diz mal de toda a gente nunca assina os seus comentários, nem assume responsabilidades para vermos do que é capaz.
ResponderEliminarAqui ninguém diz mal de ninguém, apenas se constatam factos verdadeiros, que são do conhecimento de todos os sócios do Beira-mar.
ResponderEliminarAnónimos, somos todos...